São Lucas narra com detalhes a parábola contada por Jesus do "bom samaritano" (cf. Lc 10,30-37).
Um letrado se levantou e, para por Jesus à prova, lhe perguntou: "Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?". Jesus pergunta-lhe, então: "O que está escrito na Lei? O que lês?". O letrado responde perfeitamente explicando a Lei de Moisés fazendo uma viagem sobre os seiscentos e treze preceitos judaicos. "Amor a Deus e ao próximo" é o núcleo central da Lei agora explicada por Jesus ao seu interlocutor. Não satisfeito com a síntese de Jesus, interroga-o novamente: "E quem é o meu próximo?"
Jesus conta ao letrado o episódio do "Bom Samaritano" para lhe ajudar na reflexão de quem é o seu próximo. O Papa Francisco dá à parábola o nome de "um estranho no caminho" na Fratelli Tutti (FT). O homem é anônimo, sem nome, sem nenhum tipo de identificação, um viajante que vai a pé de Jerusalém para Jericó e os salteadores que lhe roubam a roupa e o espancam cruelmente o deixam quase morto. Trata-se de uma agressão de extrema crueldade que deixa aquele homem em perigo de morte, ferido, sem roupas e ensanguentado, caído à beira do caminho.
Passam pelo caminho, onde um homem jaz meio morto, um sacerdote e um levita. Aqueles que poderiam tê-lo ajudado veem-no e passam ao largo, pelo outro lado. Esses dois homens também regressam de Jerusalém, todavia, esses homens afastam-se imediatamente do infeliz caído por terra. Por que não pararam? Por medo? Outras perguntas nos vêm à mente... talvez, não consideram que aquele homem ferido seja o seu "próximo" e, por essa razão, afastam-se dele. Estavam, enfim, preocupados em observar as prescrições de pureza ritual. Uma tensão entre culto, liturgia e ajuda ao próximo. Os dois clérigos da parábola separam compaixão e culto.
"Teve compaixão!"
No caminho "do quase morto", passa um terceiro homem. Lucas chama-o "um samaritano", isto é, um meio pagão. Para ele, que viajava por terra judaicas, uma terra que lhe é estranha e hostil. Esse samaritano aproxima-se do homem e, ao vê-lo "teve compaixão – se compadeceu". A compaixão é a dor visceral, são as vísceras que se agitam, podemos traduzir que ao contemplar o ferido o samaritano agitou-se à dor, é quase que dizer "o coração na boca". Compaixão também nos dá a ideia de útero materno, lugar da fecundidade, da vida nova, acolhimento da vida e sua proteção. Não é um sentimentalismo. Envolve a inteireza/totalidade da pessoa, como o amor materno. Então, o samaritano sente compaixão em seu coração por aquele desconhecido, indefeso e necessitado, as ações do samaritano multiplicam-se. Fez tudo o que fosse necessário a esse desconhecido para salvá-lo. Tornou-se "próximo", sem nenhum outro interesse que não fosse a misericórdia. E os gestos de misericórdia foram abundantes em favor daquele homem ferido, enfim, conduzido à pensão para ser cuidado e recuperado da violência sofrida.
Jesus interroga-nos!
"Qual dos três te parece que se portou como próximo daquele que deu de cara com os assaltantes?" O letrado ajuda-nos na resposta: "Aquele que o tratou com misericórdia". O Mestre de Nazaré recomendou-lhe: "Vai e faze tu mesmo". A solicitude do samaritano para com o homem estendido no caminho brotou de um sentimento de compaixão que se traduziu numa generosidade extraordinária. É preciso tomar a iniciativa, é preciso tornar-se próximo do necessitado. Às palavras de Jesus à prática é para educar-nos na arte de tornar-se próximo de todos àqueles caídos às margens de nossas estradas. O Papa Francisco pede-nos que olhemos enfim o ferido. Às vezes sentimo-nos como ele, gravemente feridos e atirados às margens da estrada.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas- Francisco Beltrão